Por: Séfora Semíramis Sutil Moreira
Do mito ao conhecimento racional
A filosofia nasce a partir da admiração do homem à natureza e se desenvolve pelos questionamentos que este faz às coisas da natureza para tentar compreendê-la. Quem se admira por que julga ignorar e quem ama o mito, amam a sabedoria, deste modo, podem ser considerados, de certa forma, filósofos.
Quem estuda filosofia sempre se deparará com os mitos e com os assuntos religiosos, no entanto, o próprio nascimento da filosofia partiu do desvinculo dela com o mito e a religião. Tales de Mileto (c. 625/24 a 558/6 a.C.), considerado o pai da Filosofia, afirmou que “o princípio era a água.” Atribuiu a existência do homem à Natureza e não aos deuses como acreditavam as pessoas daquela época (e ainda hoje acreditam muitos). A negação ao princípio teológico foi uma conseqüência da busca de Tales pela compreensão através do uso da razão (logos ).
Depois de Tales de Mileto vieram muitos outros pensadores e a maioria deles, também, se debruçaram nas questões dos fenômenos da Natureza. Esses filósofos foram chamados de físicos ou, como é mais comum de se ouvir, de pré-socráticos.
Sobre alguns filósofos
Tales de Mileto (c. 625/24 a 558/6 a.C.)
Tales de Mileto foi de ascendência fenícia e nasceu na Jônia, Ásia Menor. Floresceu pelo ano de 585 a.C. Foi o primeiro físico ou investigador das coisas naturais. Não deixou nada escrito que chegasse até nós. Tales foi um filósofo pré-socrático – um hilozoíta: aquele que atribui vida e geração de vida à matéria e não ao mito e/ou à religião.
Anaximandro de Mileto (c. 619 – 547 a.C.)
Anaximandro foi discípulo e sucessor de Tales. Foi geógrafo, matemático, astrônomo e político. Escreveu um livro intitulado “Sobre a Natureza”, mas este se perdeu à nossa atualidade.
Para Anaximandro o princípio era o ilimitado (aperion), pois a vida se corrompe (tudo que é vivo está fadado a morrer). O ilimitado é o que dá a vida, neste sentido a vida terrena se acaba e passa a outro estágio.
Heráclito de Éfaso (c. 540 – 470 a.C.)
Heráclito nasceu em Éfaso, na Jônia. Desprezava a plebe; não entrevia na política; desprezava os antigos poetas e os filósofos de seu tempo; desprezava a religião. Foi considerado por muitos o mais eminente filósofo pré-socrático. Estabeleceu a existência de uma Lei universal e fixa (Logos) que regia todos os acontecimentos particulares e fundamentava a harmonia universal, harmonia esta, segundo este, feita de tensões.
Parmênides de Eléia (c. 530 – 460 a.C.)
Nasceu na Eléia, foi discípulo do pitagórico Amínias. Combateu a filosofia dos Jônicos. Também escreveu um livro intitulado “Sobre a Natureza”.
Sócrates (c. 469 – 399 a.C.)
Sócrates teve contato com Parmênides. Ele serviu a cidade de Atenas, foi discípulo de um filósofo pré-socrático. Em sua juventude fez estudos sobre física e chega a conclusão de que algumas verdades não condiziam – se depara com um ceticismo: conflito filosófico.
Ele dizia que não há como conhecer toda a Natureza, por isso voltou-se para o autoconhecimento. Seguia o oráculo de Delfos que dizia: “Conheça-te a ti mesmo”. Depois de receber este oráculo começou a buscar o conhecimento do homem.
Os sofistas
Os filósofos não colocavam em questionamento suas descobertas, não as problematizavam socialmente. E, ao mesmo tempo em que levantavam questionamentos sobre as ditas verdades também não deixavam de acreditar totalmente nestas verdades.
Já os sofistas eram mestres na arte da demagogia. Eram argumentativos técnicos que conseguiam, através da palavra oral, convencer qualquer um sobre qualquer coisa – sendo esta verdadeira ou não. Os sofistas, muita das vezes, se passavam por filósofos por causa de suas boas digressões. Para se tornar um sofista também se passava por ensinamentos. Os discípulos sofísticos tinham que aprender a Retórica (oratória). Os sofistas cobravam pelos ensinamentos.
Tipos de sofista
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Nome
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Descrição
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Exemplos
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Sofista Mestre
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Foram os primeiros sofistas
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Os sofistas eristas eram os discípulos dos sofistas mestres. Eram mais ignorantes, grosseiros e com menos conhecimento do que os Mestres.
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Trasímaco
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Sofista Político
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Utilizavam-se da retórica para tirar proveitos na política. Tinham mais conhecimento e eram menos grosseiros.
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Os sofistas estavam preocupados em saber as virtudes do homem: beleza, coragem, etc. Não se preocupavam com a Natureza. Não se aprofundavam muito na busca do conhecimento das virtudes e por não mergulharem no assunto acabavam por não conseguir formular um conceito. Pode-se dizer que Sócrates estavam um pouco a frente dos demais sofistas, pois compreendia que nada sabia.
Platão (431 – 347 a.C.)
Platão era de linhagem nobre e estava ligado a pessoas importantes. Platão foi um discípulo de Sócrates e escreveu suas memórias, provavelmente iniciou com ele ainda em vida. Ele defendia que para ser um bom governante um rei tinha que ser filósofo , posteriormente, afirmou que era preciso haver boas leis.
Platão deixa Atenas por muitos anos, mas volta em 335 a.C. e funda a Academia. Após a fundação da Academia, Platão se volta para os estudos matemáticos e isso deve, possivelmente, por um contato que teve com Pitágoras. Na Academia ele escreve os Diálogos.
Diálogos
I) Primeiros diálogos, Socráticos ou Diálogos da Juventude;
II) Diálogos dialéticos ou Diálogos da maturidade.
Os primeiros diálogos se concentram mais nas obras de Sócrates. Apresentam conteúdos fundamentados em aporias (impasses; dilemas). As questões levantadas, em geral ou totalmente, não levam a conclusões. Exemplos: Apologia, Etríton (piedade), Críton (dever), Carmendes (amizade), Lísias, Hipias maior e menor (beleza), Protágoras, Mênon (conhecimento), Górgias (retórica). Os Diálogos da Maturidade são: Fédon (sobrevivência da alma), República, Justiça, Teeteto, Sofistas (política), Parmênides, As leis.
A Academia sobreviveu a Platão, um sobrinho dele assumiu a direção no lugar de Aristóteles, que foi seu pupilo mais proeminente. Por este motivo Aristóteles se desvinculou da Academia, sai de Atenas e quando volta funda o Liceu.
Filosofia de Platão
· Teoria das Idéias;
· Teoria dos princípios;
· Demiurgos.
Teoria das Idéias: Concepção de que existe um mundo além do material que conhecemos. Este outro mundo seria o “mundo das idéias”. Neste mundo das idéias, metafísico, é onde se consegue compreender noções sobre o belo, justo, amor, bem, etc.
A noção de bem é central e as demais derivam dela. O bem seria a essência das demais idéias – o uno. Ou seja, é uma concepção esotérica na qual as outras noções estão dentro da noção uno.
Há mais realidade na parte direita do corte da reta e a parte esquerda seria um suporte da direita. Em ambos os mundos, visível e inteligível, há realidade. Mesmo, com a aparente metafísica que o mundo inteligível transpareça ele é real – e mesmo a negação de sua existência ou de sua realidade já é a afirmação do pressuposto que ele exista.
A afirmação dogmática da não existência de algo soa ingênua. E de mesma ingenuidade gozam aqueles que afirmam com veemência a existência de algo.
Do pressuposto de mundo inteligível e visível surge a teoria da reminiscência (Anamnese). Esta teoria consiste na afirmação de que no Reino dos Mortos, comandado com Hades, há o Rio do Esquecimento, Lethos, onde as almas desencarnadas quando por ele passam se esquecem de tudo que sabiam para novamente encarnar em um corpo material do mundo visível. Porém, aqueles mais dotados de conhecimento não se esquecem de tudo. Isso justificaria o nascimento de pessoas que têm mais facilidade para aprender.
Paidéia é fundamental para Platão: conhecer a ti mesmo é a base conseguir alcançar o conhecimento do bem e, destarte, alcançar a educação.
Elementos que compõe o conhecimento do real
Os elementos são distribuídos em cinco, sendo o primeiro o nome, o segundo a definição, terceiro a imagem, quanto o conhecimento (ou inteligência) e o quito é o próprio real. Os três primeiros elementos são apenas uma representação do real (matrix), o quarto é o que mais se aproxima do verdadeiro real. É a través do quarto elemento que se chega mais próximo ao quinto.
Aristóteles
Aristóteles (385 – c. 322/21 a.C.) não era de família aristocrática e, diferentemente dos filósofos anteriores, separa a filosofia do governo da cidade. Ele foi professor de Alexandre da Macedônia que, posteriormente, se tornou Imperador. Estudou na Academia como pupilo de Platão, mas após a morte deste deixou a Academia e a própria Atenas, quando voltou fundou o Liceu.
Aristóteles formulou seus próprios métodos e divergiu em muitos quesitos de seu mestre Platão. Platão utilizava o método dialético enquanto Aristóteles utilizava o “exame sistemático das doutrinas dos antecessores e sua crítica.” Ele dividia seus ensinamentos em exotéricos e esotéricos, sendo o primeiro destinado aos alunos sem conhecimento filosófico prévio (nas palavras de Rouanet, os não-especializados) e o segundo para os que já tinham um conhecimento prévio sobre filosofia.
Aristóteles afirma que o homem tem um desejo natural pelo conhecimento e que isso se faz pelo espanto. Porém, esse desejo não é tão espontâneo quanto se pensa, ele parte do contato com as aporias da vida e da natureza (de impasses que parecem não ter solução) e da procura por uma solução. O ensinamento da Aristóteles era bem vasto, são chamados saberes teoréticos. Os saberes teoréticos se dividem em: Física, matemática, filosofia teológica ou primeira. O conjunto dos saberes práticos (fruto da praxis humana) se divide em: Ética e Política.
Para este filósofo conhecer significa conhecer pela causa, a causa é que dá o caráter científico. As ciências teoréticas estudam o conhecimento das causas daquilo que é natural ou proveniente da natureza, ou seja, que não seja fruto da praxis humana. Já as ciências práticas (ou teóricas) estudam o conhecimento daquilo que foi fruto de uma ação humana. Através desta busca do conhecimento das causas (conhecimento científico), Aristóteles, mais uma vez, diverge com Platão. Pois, se Platão era mais abstrato em suas teorias e explicações (Teoria das Idéias, por exemplo) Aristóteles era da experimentação.
Para Aristóteles havia quatro possíveis causas para os acontecimentos, ou para as aporias, sendo estas:
· Formal ......................................... idéias;
· Eficiente ou motora .................... trabalho empregado para a confecção de algo;
· Material ....................................... aquilo do que se é feito;
· Final ............................................. para o que serve aquilo que se construiu.
No século XVIII esta noção de conhecimento através da causa foi criticada por Hume, filósofo escocês. Este dizia que não é possível se conhecer totalmente as causas. Posteriormente, a física quântica, introduzida por Einstein, afirmou a importância de se saber as causas, uma vez que não se pode ter certeza do que aconteceu ou do que levou ao acontecimento (Tem-se, pelos estudos de Heisenberg, o Princípio da Incerteza).
Conhecer é conhecer a causa
Não posso conhecer a causa
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Modus Tolles
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Logo, não posso conhecer
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Princípios lógicos de Aristóteles
I) Princípio de identidade
II) Princípio de contradição
III) Princípio do terceiro excluído
Quando se passa de uma afirmação universal afirmativa para o campo pessoal/ particular tem-se uma dedução. Quando se parte de um raciocínio particular pra uma afirmação que seja universal tem-se uma indução.
Karl Popper, no século XX, coloca em cheque o princípio dedutivo como fonte para o conhecimento científico, questiona o silogismo.
As afirmações passam pelos juízos:
· Assetóricos (categórico);
· Hipotéticos
· Disjuntivos (delimita as possibilidades)
“Todo silogismo é composto de um termo maior (no caso, ‘mortal’), um termo médio (no caso, ‘homem’) e de um termo menor (no caso, ‘Sócrates’). O termo médico é a ligação entre a premissa maior e a menor.”
Premissa Maior .................... termo maior
Premissa Menor ................... termo médio
Conclusão ............................ termo menor
O termo médio tem que estabelecer uma relação entre os extremos (Premissa maior e Conclusão). A Conclusão sempre acompanha a parte mais fraca. E nada se conclui de Premissas que sejam particulares.
“Todo homem é mortal, – Premissa Maior
Sócrates é homem. – Premissa Menor
Logo, Sócrates é homem – Conclusão. ”
A política
Sobre a Polis
“Aristóteles vê a cidade (polis) como uma comunidade formada a partir da reunião de famílias, (...) que são os povoados, a cidade definitiva sendo ‘a comunidade constituída a partir de vários povoados. ’”
Sobre a usura
Sobre a venda de serviços e/ou troca de produtos que gere algum tipo de lucro para o “vendedor”, ele se posiciona contra (contra a usura), mas diz que é decorrente do uso do dinheiro.
Sobre a propriedade na visão aristotélica
I) Propriedade privada de uso comum
II) Propriedade comum de uso privado
III) Propriedade comum de uso comum
Para este filósofo não pode haver bens privados de uso somente privado, um bem, independente de quem seja, deve beneficiar a todos. Também, não considera correta a segunda proposição (Propriedade comum de uso privado), pois acreditava que os indivíduos (famílias) trabalhando em propriedade que sejam sua são mais dispostos ao trabalho, se sentem mais estimulados em trabalhar em algo que é seu.
Aristóteles coloca essas duas proposições como as formas de se conseguir viver em comunidade. No entanto, não deixa de considerar que as pessoas, mesmo em convívio, têm que ter suas particularidades. Dessa forma, ele defende a propriedade privada de bens que tenham sido almejadas por méritos pessoais.
Em suma, ele não defende a divisão igualitária de terras e bens para um ajuste de diferenças, pois acredita que os esforços que levam as pessoas a conseguirem seus méritos são distintos e, sendo assim, mesmo após uma divisão igualitária em pouco tempo a diferença retornaria.
Metafísica de Aristóteles
Metafísica foi um nome dado pelos aristotélicos, mas foi um nome que se adequou ao assunto. Metafísica são os estudos de tudo aquilo que está acima da física, que ultrapassa as questões humanas.
No século XVIII houve críticas e desconsiderações à importância da metafísica. O próprio Immanuel Kant criticou a Metafísica aristotélica, no entanto, não tentou se desfazer dela. Kant, tenta reformulá-la através de suas obras, em especial a “Prolegômenos à toda metafísica futura que se queria como ciência” (1785).
Juízo Analítico
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Juízo Sintético
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Juízo a priori
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Juízo a posteriori
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Juízo aonde o predicado não acrescenta nada ao sujeito. Análise.
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Acréscimo de informação ao que já se analisou. Especificação das propriedades do sujeito.
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Anterior a qualquer experiência.
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Necessita de dados empíricos para compreender o sujeito.
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Kant dizia que se a Metafísica existe ela é necessariamente de juízo sintético a priori, de uma informação de uma informação que se tenha concluído por concepções a priorísticas. Esta afirmação dele se baseou em sua concepção de que se conhece o objeto somente pelo que ele transparece ser (como ele se manifesta) . Em outras palavras, ele diz que não é possível conhecer o objeto como ele é e sim como ele se mostra ser para os indivíduos. Assim, se conclui que o conhecimento é fenomenal . Portanto, na visão kantiana, a Metafísica não é de todo subjetiva podendo ser experimentada.
Antinomia da razão: questões que não se consegue compreender totalmente. Argumentos que se discutem entre si aos quais não se são possível optar por um ou outro, pois ambos são consideráveis.
Antinomia de Deus é um exemplo: imortalidade da alma; infinitude do mundo; livre arbítrio.
As questões que chegam à antinomia são consideradas transcendentes, pois estão acima do conhecimento e capacidade de entendimento humano.
Kant afirma que todos têm uma metafísica natural. Em algum dado momento da vida as pessoas se perguntarão: De onde vim? Para onde vou? O que posso esperar da vida? Quem criou o universo? Quem é Deus? Entre outras questões que não se tem resposta definida. E ele conclui que não há como acabar com as questões da metafísica. Sempre algum ser humano se questionará sobre estas questões.
Sobre o saber e o sábio
A experimentação leva à ciência e à arte. A ciência é um conhecimento mais específico e a arte mais técnica. Os homens que conhecem a ciência e a arte possuem superioridade aos que conhecem somente uma delas (ciência ou arte isoladamente). A prática não consegue explicar os fatos e também distancia o homem do conhecimento científico. Pois, para se haver sapiência humana é preciso ociosidade. Dito de outra maneira, a falta de prática leva o homem ao pensamento e, consecutivamente, à sabedoria.
“A sabedoria diz respeito ao conhecimento das causas.”
Sobre o sábio:
I) Conhece todas as coisas;
II) Conhece as coisas difíceis;
III) É mais sábio quem tem conhecimento das causas;
IV) É mais sábio quem sabe ensinar;
V) A ciência é hierarquicamente superior (a filosofia é superior);
VI) Há mais sabedoria na ciência.
Aristóteles diz que a ciência maior é a Filosofia, as demais estão a baixo dela. A sabedoria se dá pelo conhecimento do desconhecido sobre algo. “Sabe-se o que é, mas não sabe-se por que assim é.”
Santo Agostinho
Agostinho de Hipona (354 – 430 d. C.) “nasceu no momento de dissolução do Império Romano do Ocidente [no] início da Idade Média.” Por preocupações sobre o próprio sustento tronou-se professor depois da morte de seu pai, fundou uma escola em Tagaste. Neste meio tempo teve um filho, Adeodato, que morreu ainda na adolescência. Posteriormente, foi para Cartago, mas se decepcionou com o posicionamento dos alunos em sala de aula e foi lecionar em Roma, depois em Milão. Em Cartago teve contato com os princípios maniqueístas sobre o bem e o mau. Através das influências de Santo Ambrósio, Agostinho conseguiu embasamentos no cristianismo para refutar as idéias maniqueístas, mas pode-se dizer que ele sofreu influência maniqueísta.
Aos 32 anos de idade aproximadamente, Agostinho relata ter tido um sinal divino que o induziu a ler a Carta de São Paulo e converteu-se ao cristianismo católico.
Não caminheis em glutonarias e embriaguez, não nos prazeres impuros do leito e em leviandades, não em contendas e emulações, mas revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não cuideis da carne com demasiados desejos.
Após se converter deixou o magistério. Trocou então as aulas pelas meditações e elaboração de uma filosofia cristã. Fez uma síntese entre a filosofia cristã e pagã e sistematizou esta filosofia. Por nomeação da Igreja tornou-se Bispo da Hipona, na África. Não gostava muito dos ofícios clericais, mas obedecia as atribuições da igreja.
Sobre a doutrina agostiniana
A filosofia agostiniana baseia-se na busca da beatitude, neste ponto seu pensamento também tem relações com o de Aristóteles, pois “o Supremo Bem se identifica com a felicidade” . Portanto Agostinho é eudemonista .
Agostinho preocupava-se com o que iria lhe acontecer. Fez especulações que voltavam para o entendimento do homem, portanto, seu pensamento, também, tem influências platônicas no que concerne ao entendimento de si mesmo (“Conheça-te a ti mesmo.”).
Agostinho fusiona as influências aristotélicas e platônicas e afirma que o home de se conhecer para conhecer o que deseja, pois a busca pelo que deseja lhe trará felicidade. Destarte, Agostinho coloca a Filosofia no campo do estoicismo, devendo ser ela, então, praticada. Mas, o desejo humano não pode estar relacionado aos prazeres levianas do mundo carnal. Segundo Agostinho o desejo deve estar conjugado à verdade, a felicidade será conseguida pela manutenção de uma vida justa e correta. Justo e correto para ele significa a obediência e o temos a Deus.
Fé e razão
A fé e a razão para Agostinho estão ligadas. Diz que “não compreendo tudo que creio, mas creio em tudo que compreendo. Logo a compreensão auxilia a fé.”
“Philosophia ancilla Theologine”
Filosofia é serva da teologia.
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No sentido agostiniano a razão estava submissa à fé. O cogito também está na obra de Agostinho e foi, posteriormente, trabalhado por Descartes.
O cogito leva ao entendimento de que se existe, por mais que haja dúvidas de onde viemos e para onde vamos, a consciência de existência individual leva à compreensão de que existe algo maior – um ser sublime (Deus).
Agostinho considera que a palavra mata e que o pensamento liberta, por isso não indica a leitura da Bíblia ao ‘pé da letra’.
“O regresso da Alma”, Porfírio
“O regresso da alma”, também, está relacionado à tese de Foucault sobre o cárcere da alma. A alma nesta vida está presa no corpo e se libertaria com a morte. A libertação, segundo Agostinho, se daria com a purificação da alma, esta que por sua vez se daria pelos sofrimentos da carne em vida. Este seu pensamento está relacionado à filosofia platônica. Também, relacionava-se ao maniqueísmo.
O corpo e a alma: relação conflituosa aonde a alma deveria imperar sobre o corpo, mas o que ocorre é o inverso e isso significa o manifesto do mau sobre o bem. A estabilidade entre corpo e alma, para Agostinho, significava “evitar o corpo”.
“A carne é por natureza um martírio da alma.”
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As paixões são vontades da carne, o valor da vontade será medido pela quantidade de vontade. Há boas e más paixões. O amor é uma boa vontade, mas o desejo é uma vontade má.
Segundo Agostinho, assim como Platão , vivemos numa terra a qual não pertencemos, neste mundo somos apenas peregrinos. Para estarmos aqui perdemos a memória de nosso ‘mundo natal’. Na visão agostiniana, os filósofos devem iniciar a relembrança da memória a partir da desvinculo dos desejos carnais e com a intensificação estudos que busquem a beatitude (que levará à transcendência).
“Há uma tirania do corpo sobre a alma.”
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A alma é soberana ao corpo, mas estas teriam brigado por causa de suas vontades serem diferentes e permitiu que o corpo fosse martirizado pelas vontades. Além disso, a alma proibiu ao corpo seu conhecimento, destarte, o corpo não conhece a alma. E isto consiste no regresso da alma. Há uma contradição entre as vontades do corpo e da alma, mas há a possibilidade de escolha.
Deus criou num gesto a matéria e noutro lhe deu forma. Deus criou a matéria a sua semelhança, mas criou os seres a sua imagem e semelhança.
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Na obra de Tomás de Aquino a anima (alma) tem sentido diferente, não religioso. Para ele todos os seres possuem alma, mas há diferenças de complexidade desta de um animal para um vegetal, por exemplo. A razão faz do ser humano o animal mais complexo.