Postagem em destaque

História Resenhada, ajudando em seus estudos!

Olá caro amigo estudante de História! E ste blog tem como intuito principal lhe auxiliar em seus estudos diários. Assim como vocês, ta...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Estratégias e Táticas. De Certeau e as “artes de fazer”


CHARTIER, Roger. Estratégias e Táticas. De Certeau e as “artes de fazer”. In: CHARTIER, R. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietudes. Patrícia Chittoni Ramos (trad.) Porto Alegre/ RS: Ed. Universidade/ UFRS, 2002, p.151-61

Por: Séfora Semíramis Sutil Moreira[1]

Chartier começa por caracterizar o autor Michel de Certeau:

  •     Não gosta de se definir, de se enquadrar numa escola historiográfica;
  •   Acredita que a História, das disciplinas científicas, é a mais diversa. Com a qual se pode “representar a diferença, por em cena a alteridade”[2];
  •     Homem erudito;
  •   De uma forma de escrever própria. Muito respeitado por outros historiadores, porém, “duas instituições científicas francesas não tenham querido abrir-lhes suas portas.”[3]


Percurso de Certeau enquanto historiador

    Seu trabalho modifica a compreensão do cristianismo na época da reforma da igreja (Reformas Religiosas). Certeau foi um jesuíta e seus primeiros livros foram místicos, sobre Pierre Favre e Jean-Joseph Surin.

Graças a ele, pôde-se perceber melhor como inúmeras muheres e homens nos séculos XVI e XVII viverem e enunciaram sua fé, sem lugar legítimo para dizê-la, na errância arriscada de existências às margens, autorizados somente pela certeza de ouvir em si mesmo a palavra de Deus.[4]

  Além dos trabalhos no campo religioso, Certeau, também atuou em outros campos da história.
Fez abordagens sobre “os relatos de viagem às Américas do século XVI”. Questionou sobre o estrangeiro (o nativo/selvagem) e sobre a escrita da oralidade (escrita da memória oral).

O Pensamento de Michel de Certeau sobre o pensamento histórico

            Para fazer esta abordagem sobre o pensamento de Certeau ele retoma a obra “L’opération historique” da coletânea “Faire de L’histoir” de 1974, dirigida por Jacques Le Goff e Piere Nora. Neste texto Certeau “formula uma tensão central” que é “pensar a história como uma prática científica[5]. Ou seja, a prática científica consiste em estabelecer um conjunto de regras que permitam o domínio de determinadas ações, estas ações geram a produção de determinado objeto.

Prática científica + Conjunto de Regras + Ação = Produção de um objeto.

Dominando-se a prática científica é possível identificar:

Ø  Os procedimentos técnicos;
Ø  Restrições impostas pela instituição onde foi forjada;
Ø  Regras de Produção > regras para sua escrita.

            O livro “A operação Histórica” de Michel de Certeau é também uma crítica a Paul Veyne e seu livro “Comment on écrit l’histoire” (1971). Veyne levantava questões que “estavam em total ruptura com a prática (...) dos historiadores”. Que convergiam com a História serial (longas séries de dados homogêneos – trabalho quantitativo) que estava substituindo a História-narrativa.
            Na História Serial para se construir um objeto tem-se que explicar as hipóteses do objeto e declarar seus procedimentos. Tem historiadores que apóiam o trabalho serialista e tem os que criticam. Certeau fez um posicionamento dualista.

Ø  Fala dos efeitos que o uso da tecnologia relacionada às informações serias podem trazer ao ofício do historiador (computadores fazendo o trabalho do historiador);
Ø  Mas, acredita que a junção do serialismo com tecnicismo é uma ferramenta diferente de trabalho, mas não pode substituir a narrativa escrita que é a base da História.

            Michel de Certeau considera então toda escritura histórica uma narrativa, “constituída segundo regras [que se] organizam em uma ordem cronológica, em uma demonstração fechada e em um discurso sem lacunas.”[6] Ou seja, a história é dependente de fórmulas para sua representação. Ele diz que “a história é sempre uma narrativa (...) que visa a produzir um saber verdadeiro; o discurso histórico”[7]. É uma produção que relata os fatos reais da história, feito sob a fórmula (nos moldes) de uma narrativa. Por ter compromisso com a verdade o discurso histórico deve ser feito após a análise crítica de seu produtor (que é a função principal do historiador: saber filtrar a verdade que uma documentação pode ou não trazer).

O discurso de história é, portanto, articulado sobre um regime de verdade que não é nem aquele da literatura nem aquele da certeza filosófica.[8]

            O que Certeau nos diz é que a narrativa histórica, aquela que tem compromisso com a verdade, não é a verdade em si do que aconteceu no passado e nem está dada e pronta, ou seja, é sempre discutível. Dito de outra maneira, a narrativa histórica é um elemento para a compreensão, um elemento responsável por fazer o indivíduo pensar. Portanto, a narrativa não deve ser apropriada sempre como o que de fato aconteceu, ela é somente um degrau pode levar à compreensão da realidade passada.





[1] Graduando em licenciatura/ bacharelado em História pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) - 2015
[2] CHARTIER, R. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietudes. Patrícia Chittoni Ramos (trad.) Porto Alegre/ RS: Ed. Universidade/ UFRS, 2002, p. 151
[3] Ibidem.
[4] Idem, p. 152-3
[5] Idem, p. 154
[6] Idem, p. 157
[7] Idem, p.158
[8] Idem, p. 159

Nenhum comentário:

Postar um comentário