CHARTIER, Roger. Estratégias e Táticas. De Certeau e as
“artes de fazer”. In: CHARTIER, R. À
beira da falésia: a história entre incertezas e inquietudes. Patrícia
Chittoni Ramos (trad.) Porto Alegre/ RS: Ed. Universidade/ UFRS, 2002, p.151-61
Chartier
começa por caracterizar o autor Michel de Certeau:
- Não gosta de se definir, de se enquadrar numa escola historiográfica;
- Acredita que a História, das disciplinas científicas, é a mais diversa. Com a qual se pode “representar a diferença, por em cena a alteridade”[2];
- Homem erudito;
- De uma forma de escrever própria. Muito respeitado por outros historiadores, porém, “duas instituições científicas francesas não tenham querido abrir-lhes suas portas.”[3]
Percurso
de Certeau enquanto historiador
Seu
trabalho modifica a compreensão do cristianismo na época da reforma da igreja
(Reformas Religiosas). Certeau foi um jesuíta e seus primeiros livros foram
místicos, sobre Pierre Favre e Jean-Joseph Surin.
Graças a ele, pôde-se perceber melhor como inúmeras
muheres e homens nos séculos XVI e XVII viverem e enunciaram sua fé, sem lugar
legítimo para dizê-la, na errância arriscada de existências às margens,
autorizados somente pela certeza de ouvir em si mesmo a palavra de Deus.[4]
Além
dos trabalhos no campo religioso, Certeau, também atuou em outros campos da
história.
Fez abordagens sobre
“os relatos de viagem às Américas do século XVI”. Questionou sobre o
estrangeiro (o nativo/selvagem) e sobre a escrita da oralidade (escrita da
memória oral).
O
Pensamento de Michel de Certeau sobre o pensamento histórico
Para
fazer esta abordagem sobre o pensamento de Certeau ele retoma a obra “L’opération historique” da coletânea “Faire de L’histoir” de 1974, dirigida
por Jacques Le Goff e Piere Nora. Neste texto Certeau “formula uma tensão
central” que é “pensar a história como uma prática científica”[5].
Ou seja, a prática científica consiste em estabelecer um conjunto de regras que
permitam o domínio de determinadas ações, estas ações geram a produção de
determinado objeto.
Prática científica + Conjunto de Regras
+ Ação = Produção de um objeto.
Dominando-se a prática científica é possível
identificar:
Ø Os
procedimentos técnicos;
Ø Restrições
impostas pela instituição onde foi forjada;
Ø Regras
de Produção > regras para sua escrita.
O livro “A operação Histórica” de
Michel de Certeau é também uma crítica a Paul Veyne e seu livro “Comment on écrit l’histoire” (1971).
Veyne levantava questões que “estavam em total ruptura com a prática (...) dos
historiadores”. Que convergiam com a História serial (longas séries de dados
homogêneos – trabalho quantitativo) que estava substituindo a
História-narrativa.
Na História Serial para se construir
um objeto tem-se que explicar as hipóteses do objeto e declarar seus
procedimentos. Tem historiadores que apóiam o trabalho serialista e tem os que
criticam. Certeau fez um posicionamento dualista.
Ø Fala
dos efeitos que o uso da tecnologia relacionada às informações serias podem
trazer ao ofício do historiador (computadores fazendo o trabalho do
historiador);
Ø Mas,
acredita que a junção do serialismo com tecnicismo é uma ferramenta diferente
de trabalho, mas não pode substituir a narrativa escrita que é a base da
História.
Michel de Certeau considera então
toda escritura histórica uma narrativa, “constituída segundo regras [que se]
organizam em uma ordem cronológica, em uma demonstração fechada e em um
discurso sem lacunas.”[6] Ou
seja, a história é dependente de fórmulas para sua representação. Ele diz que
“a história é sempre uma narrativa (...) que visa a produzir um saber
verdadeiro; o discurso histórico”[7]. É
uma produção que relata os fatos reais da história, feito sob a fórmula (nos
moldes) de uma narrativa. Por ter compromisso com a verdade o discurso
histórico deve ser feito após a análise crítica de seu produtor (que é a função
principal do historiador: saber filtrar a verdade que uma documentação pode ou
não trazer).
O
discurso de história é, portanto, articulado sobre um regime de verdade que não
é nem aquele da literatura nem aquele da certeza filosófica.[8]
O que Certeau nos diz é que a
narrativa histórica, aquela que tem compromisso com a verdade, não é a verdade
em si do que aconteceu no passado e nem está dada e pronta, ou seja, é sempre
discutível. Dito de outra maneira, a narrativa histórica é um elemento para a
compreensão, um elemento responsável por fazer o indivíduo pensar. Portanto, a
narrativa não deve ser apropriada sempre como o que de fato aconteceu, ela é
somente um degrau pode levar à
compreensão da realidade passada.
[1] Graduando em licenciatura/
bacharelado em História pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) -
2015
[2] CHARTIER, R. À beira da falésia: a história entre
incertezas e inquietudes. Patrícia Chittoni Ramos (trad.) Porto Alegre/ RS:
Ed. Universidade/ UFRS, 2002, p. 151
[3] Ibidem.
[4] Idem, p. 152-3
[5] Idem, p. 154
[6] Idem, p. 157
[7] Idem, p.158
[8] Idem, p. 159
Nenhum comentário:
Postar um comentário