Introdução
O Renascimento distancia do pensamento escolástico que era mais pragmático e ortodoxo. Tem-se então a transição da filosofia contemplativa (escolástica) para a contemplação da vida ativa (renascentista).
Magia: neste contexto significa um conjunto de conhecimentos que são capazes de modificar o mundo humano.
Mago: O mago é o indivíduo que domina este corpo de conhecimento filosófico e transforma a natureza a favor do homem – modifica a natureza em prol do bem-estar humano.
Petrarca[2] resgatou o latim clássico, pois nas universidades medievais se estudava o latim vulgar, que estava longe de suas raízes. Esta vertente tinha uma obsessão na busca pela pureza da língua, pois acreditavam que o conhecimento estava sendo mal interpretado e assim, mal ensinado nas universidades. Portanto, eles buscaram esta pureza da comunicação e da escrita. Pode-se dizer que eles buscam a beleza da linguagem, beleza, neste sentido, trata-se de escrever/comunicar de forma clara, nem chula e simplória e nem rebuscada demais ao ponto de ser tornar incompreensível e confusa. É a busca pela clara expressão.
A importância que se dá aos clássicos é então o resgate a boa oralidade (a retórica). Este resgate não deve ser interpretado como a cópia dos clássicos, mas da maneira como se comunicavam; da livre forma de pensar; e da elegância da expressão oral; enfim, da atitude do homem clássico. Era também o resgate da liberdade de pensamento.
O humanismo, então, tem interesses diversos no que diz respeito aos diferentes pensamentos filosóficos, por isso fazem forte crítica à metodologia dos escolásticos medievos – ao fato de se restringirem a alguns autores e tomarem suas produções como verdades absolutas e incontestáveis.
A grande crítica concerne, portanto, às verdades absolutas dadas nas universidades. Os renascentistas não acreditam em uma verdade pronta (que possa ser dogmatizada) e sim na procura do conhecimento do indivíduo na natureza – a verdade é a resolução que o indivíduo faz de suas buscas, mas isto não significa que a verdade por ele encontrada seja a última (que não possa ser discutida).
Os renascentistas acreditavam que o conhecimento não poderia ser encontrado nos escritos e sim na procura que a pessoa faz pelo conhecimento, pois quando se procura (em seu permeio) se chega a conclusões; se pensa sobre; se duvida. Enfim, o conhecimento não é um objeto pronto que se compra, mas o cominho instigante em busca do entendimento sobre algo; é questionar o que está escrito; e era somente assim que se poderia obter uma verdade (verdade esta que estava livre ao debate).Portanto é característico dos humanistas de ter variados textos sobre variados assuntos.
O resgate da língua vernácula tem a funcionalidade de possibilitar a leitura dos clássicos. E a retórica servia para a prática, visto que a intenção do Renascimento era a formulação de teorias que pudessem orientar e modificar para melhor a vida humana (magia) e foi através da retórica que se pode fazer entender aos demais indivíduos.
Erasmo de Roterdam (1466-1536): Tinha como referência intelectual Lorenzo Valla. Estes dois autores também criticam muito o pensamento escolástico (dogmatizado), criticam a hierarquia na universidade medieval.
Lorenzo Valla dizia que para se conhecer a Deus tinha-se que ler a Bíblia, palavra de Deus, no seu escrito original. Como esta estava escrita em outra língua (aramaico, grego) era preciso o profundo conhecimento de outras línguas. Valla refaz as traduções da Bíblia e contesta as verdades que eram ensinadas – disse que eram falsas verdades, visto que as traduções estavam mal feitas.
Erasmo de Roterdam se apropria das proposições de Valla, acredita que precisava ser refeita a tradução da Bíblia, criticou os livros desta.
Valla e outros autores chegaram à conclusão de que a interpretação dos textos era importante para a compreensão do sentido que nele se insere. Perceberam que o texto tem sua historicidades (seu lugar e seu tempo histórico). Também compreenderam que a língua modificava-se no tempo, e que, portanto, precisava-se de métodos diferentes para se compreendê-los. Valla, através de seu conhecimento da língua, conseguiu datar os textos e percebeu que alguns deles estavam datados erroneamente.
Doação de Constantino: o documento de suposta doação de terras à igreja do imperador Constantino era falso. Através do dialeto pode-se perceber que se tratava de uma falsificação, a linguagem utilizada não condizia com a do tempo do imperador, era posterior.
A grande crítica de Valla era a maneira como um texto de outro tempo era lido, pelo escolástico, como se fosse escrito pelos homens daquele tempo contemporâneo (anacronismo).
A obra de Lorenzo Valla ficou conhecida, e foi polêmica, no início do séc. XVI devido à invenção da imprensa e a diminuição dos custos para fabricação de livros. A partir deste momento, as suas obras passaram a ser lidas por outros pensadores e, assim, fez com que fortalecesse seu pensamento e suas técnicas. O pensamento humanista passou por construções pelo tempo, sendo fortalecido por autores/pensadores diversos (bons gramáticos e teólogos). As transformações do humanismo deram origem ao Renascimento. O Renascimento é, portanto, a busca pela capacidade criativa dos antigos; um resgate da vitalidade do mundo antigo. Ou seja, é a fuga da repetição sem questionamentos feita pelos escolásticos. O renascimento é a recuperação da “dinâmica cultural”.
O antropocentrismo humanista concerne em colocar os problemas/construções e pensamentos do homem no centro da discussão. As modificações/ transformações do homem é que se tornam importantes neste contexto. Era a experiência do homem que lhe proveria o acesso à felicidade – por isso a importância do homem para os humanistas.
A técnica passou a ser valorizada pelos gramáticos humanistas, isto para auxiliar no entendimento da palavra. A técnica é fundamental para o conhecimento de mundo, ou seja, não é somente a leitura que traz verdade. O domínio da técnica neste tempo foi chamado de magia (o que hoje é chamado de tecnologia).
Os humanistas introduzem a preocupação com a língua, livros e com as técnicas. Tentam a reprodução dos elementos naturais por meio da técnica, para encontrar o conhecimento da natureza, ou seja, eles passa a se preocupar com a experiência (alquimia). O uso do conhecimento lingüístico advindo dos livros para a reprodução, através da experiência, em prol da reprodução da natureza é a magia.
Estes empiristas chegam ao entendimento de que a formação da natureza é material e se constitui através da combinação de diferentes matérias. Portanto, passaram a ser materialistas e não transcendentes como os escolásticos. As críticas dos humanistas entram em confronto com os escolásticos devido aos sentido de autoridade muito utilizado por estes últimos.
Marcílio Ficini e Pico della Mirandola: eram do grupo hermetista (têm relação com os alquimistas), eram mais preocupados com as questões cósmicas – explicação cósmica do universo. Estes eram filósofos da natureza (cientistas).
Hermetismo: sua tese fundamental é a da “luz e do amor”, estas são substâncias que correspondem a força motriz do universo. Hermes (séc. III) disse que a atração pelo amor traz transformações. O amor universal faz com que o universo se movimente – lei do amor universal.
A concepção da lei do amor universal faz com que estes humanistas fossem capazes de modificar a natureza a fim de promover a atração dos corpos (força da amor) em prol da felicidade humana. O indivíduo que consegue modificar as forças da natureza em prol da felicidade humana é considerado um mago.
Os humanistas tinham uma grande preocupação em compreender o trabalho técnico. Francis Bacon disse que era de suma importância a busca do conhecimento dos artífices e suas técnicas a fim de apreendê-los para o melhoramento da vida ativa – isto deu início ao que hoje é chamado de tecnologia.
A idéia era apropriar os conhecimento naturais, dominá-los e manipulá-los em benefício do homem. Este antropocentrismo vai contra ao pensamento anterior, que acreditava que os benefícios feitos ao homem deveriam ser feitos somente se fosse com o intuito de deixá-lo mais próximo de Deus. Portanto, esta nova idéia vai contra o pensamento religioso.
Leonardo da Vinci: foi um renascentista que se destacou por ser um homem muito preocupado com o conhecimento universalista (enciclopedista). Seus códices são documentos de profundo estudo científico que, com suas ilustrações, traz grande preocupação com o detalhe. Isto justifica sua fama nos trabalhos artísticos (pinturas e desenhos); além da variedade dos seus estudos científicos (sobre movimento das águas; controle do ar/gravidade pelo vôo; anatomia humana, etc.). Sua arte não estava tão-somente caucada nas funções emocionais, tinha o objetivo de fazer com que os homens compreendessem o funcionamento da natureza. Em outras palavras, o entendimento da natureza por meio da razão e da emoção.
Alberti: foi um arquiteto renascentista que também buscava a melhoria da vida humana. Ele buscava fazer da arquitetura uma forma de organização da vida humana – a disposição dos prédios urbanos, ruas e vias tinham função de educar e formar o homem. A arquitetura era expressão da política.
Estes renascentistas, cientistas e pesquisadores, eram muito criticados, pois ia contra tudo o que se vinha pregando como correto há muito tempo.
O movimento humanista renascentista foi pequeno, não teve muitos adeptos nem grandes dimensões de suas idéias, entretanto, não foi insignificante – teve a capacidade de se manter no tempo.
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