Por: Séfora Semíramis Sutil Moreira[1]
René Descartes
René Descartes é considerado o pai da filosofia moderna devido às suas colocações filosóficas. Ele nasceu num período de guerras religiosas, pouco antes de seu nascimento houve “o massacre de São Bartolomeu” [2] aonde foram mortos mais de três mil protestantes (Nesta ocasião o Papa mandou que soassem os sinos pelo seu júbilo de ter massacrados os protestantes).
Este filósofo nasceu numa cidade próxima a uma região que predominava o protestantismo, mas foi educado como católico. Descartes estudou no colégio Jesuíta “Collège de La Fleche”, melhor colégio de toda Europa. Teve acesso a muita informação nesta instituição de ensino. Como dito nasceu em meio a conflitos religiosos e viveu na época dos reis Henrique IV (1553 – 1610); Richelieu (1585 – 1642) e Luis XIV.
Depois de concluir seus estudos no La Fleche foi para o exército holandês “aprender no livro do mundo” na Guerra dos trinta anos (1618 – 1648). Em 1620 deixou a vida militar e dedicou-se novamente aos estudos. Em 1628 escreveu “As regras para produção do espírito” que foi publicado postumamente. Em 1637 publicou a obra “O discurso sobre o método”. Em 1641 publicou “Meditações”, além dessas também publicou as obras: “Princípios de Filosofia” e “Tratado das paixões da alma”.
René Descartes foi morar nos países baixos. Em 1649 sentiu-se ameaçado devido à sua aparente pouca fé e mudou-se para Estocolmo, na Suécia, a convite da Rainha Cristina[3] para dar-lhe aulas. Em decorrência do frio sueco ele adquiriu uma pneumonia e acabou falecendo (há boatos de que teria ele melhorado da pneumonia, mas teria sido envenenado pelo médico da Rainha que, por coincidência era protestante).
Foi influenciado pelo pensamento de grandes nomes de sua época como Nicolau Coppérnico (1473 – 1543), Galileu Galilei (1564 – 1642), Johann Kepler (1571 – 1630) e Tycho Brahe (1546 – 1601).
Nicolau Copérnico: Em “Revolução das orbes celestes” introduz uma nova concepção sobre a organização dos corpos celestes, retirando a terra do centro do Sistema Solar.
Galileu Galilei: Formula a lei de queda dos corpos, movimentos clíptico dos corpos celestes e inventa instrumentos como o telescópio.
Sobre as obras
Na obra Meditações fez seis demonstrações da existência de Deus.
1) Jamais compreender alguma coisa que não se conheça totalmente como verdadeira;
2) Dividir cada uma das dificuldades em quantas partes necessárias para melhor compreendê-las;
3) Conduzir o pensamento por ordem, indo do mais simples ao mais composto, por graus e supondo uma ordem entre as etapas;
4) A partir do que já se obteve na utilização das proposições anteriores fazer enumerações completas de modo a nada omitir e rever as relações entre as partes e entre seus entremeios.
Para o campo filosófico Descartes afirmava que não bastava somente o pensamento era preciso também a comprovação através do experimento.
Suas afirmações:
Ele dizia que a natureza deve servir ao homem, que o homem deve manipulá-la. Entendia que os animais são como máquinas e tal como imaginava que são eram eles para o uso e manipulação humana. São máquinas que servem somente ao uso e prazer humano.
Descartes dizia que se o ser pudesse, ou de algum modo fosse guiado, usar somente a razão deste quando nascesse, talvez, teria mais uso dos juízos.
Dizia que não se pode modificar o mundo, mas que é possível analisar e reconsiderar sobre as coisas se interessa mais. Não se pode reconstruir o mundo, mas se é possível reformular idéias e mudar a forma de se ver este. É mudar a si e não ao mundo, de forma que não seja prejudicial aos demais seres humanos.
Descartes pensava que cada indivíduo, seguindo sua própria razão, e não o que os outros acreditam que seja o melhor conseguiam viver racionalmente. É preciso também, segundo suas concepções, sempre rever suas idéias verificando se ainda são válidas para o direcionamento racional da vida. Mas, este “direcionamento do espírito” não se faz de qualquer modo, para isso ele elaborou os métodos, então, é necessário segui-los.
Moral Provisória
Descartes elaborou a Moral Provisória como meio de se tranqüilizar perante a sua aparente pouca fé, o que era um problema, pois poderia ser considerado herege ou protestante e ser perseguido e eliminado pela igreja católica. Como foi o caso de Galileu que foi solicitado a se retratar após a afirmação de que a Terra é que gira em torno do Sol e não ao contrário. Com a criação de regras de moral não desconfiariam dele e poderia seguir com seus outros estudos sem ser incomodado, pensava ele. Acreditava ele que a moral, metaforicamente, era o cume de uma árvore (a parte principal dos pensamentos, que está em melhor localização). No entanto, ele acreditava que as demais partes desta árvore (os outros estudos) ainda não estavam determinadas com exatidão, por isso, deu o nome de Moral Provisória. Nesta Descartes fez quatro proposições, regras de conduta, sendo elas:
1) Obedecer às leis e costumes do país onde nasceu, seguir a religião a qual foi criado, seguir as opiniões mais moderadas e distantes do excesso, pois se errasse erraria pouco;
2) Ser o mais firme e resoluto (determinado) possível em suas ações: uma vez que se toma uma decisão é preciso segui-la até o fim, seguir com vontade constante como se fosse absolutamente certo;
3) Procurar vencer a si e não à sorte, antes mudar suas vontades do que a ordem do mundo;
4) Escolher a ocupação que mais se identifique aos seu jeito, a que se tem mais capacidade.
Para Descartes liberdade e necessidade estão relacionadas, agir conforme a razão é agir bem, agir bem é, então, uma escolha, logo, agir racionalmente (bem) é se ter um pouco de liberdade (pelo menos nas escolhas).
Metafísica (filosofia)
A metafísica, ou filosofia, de René Descartes coloca em dúvida a maioria dos conhecimentos; rejeita todos como se fossem falsos; rejeita a possibilidade de conhecimento do corpo e do mundo material; rejeita a própria matéria e a matemática. Quando parece ter rejeitado tudo ele percebe a existência de algo, percebe que o ato de pensar lhe confere existência e conclui que Cogito ergo sum! (Penso, logo existo!). Por detrás de tudo que parece não existir há algo que pulsa pensamento – há um ser pensante, portanto há existência. Esta é a primeira certeza de Descartes. [4]
Da admissão da existência do ser, Descartes admite que há dor, frio, calor, fome, etc., portanto, que há um corpo físico que sente. Também, admite que exista o sofrimento, amor, saudade, felicidade, etc., portanto, que há um corpo espiritual que sente abstrativamente. Ele atribui à ação maligna de um ser exterior (corpo espiritual) os sentimentos físicos, a dor do corpo físico, por exemplo.Mas, pensa que se há um ser espiritual, exterior, é por que um ser superior (Deus) permite sua existência, logo, Deus existe.
Acreditando ter encontrado a existência real de Deus, criou seis proposições comprovando sua crença. Uma delas é sobre a idéia de perfeição humana, segundo ele, esta perfeição deve ser reflexo a perfeição divina. Outra é sobre a falta de certeza que temos sobre nossa existência, devemos ser criações de Deus. Também sobre a existência do planeta ele concerne a deus a sua criação, entre outras proposições.
A existência de Deus é a primeira certeza da ordem das razões. A razão é algo humano, a existência humana é obra divina, logo, não há um gênio maligno que exerça influências. Se não está bom ou se sentes dor é por vontade de Deus. Após estas ‘descobertas’ é que Descarte se sente tranqüilo para continuar seus estudos científicos.
Immanuel Kant nasceu em Königsberg em 1724, em uma família de artesãos, e morreu em 1894 na Prússia, suas idéias revolucionaram o pensamento científico, da ordem moral e artística. Sua mãe era protestante (pietista) de uma seita rígida. Dizia Kant que o homem é insociável por natureza, porém, que associasse a outros para alcançar seus interesses – fazendo assim à existência da sociedade. Ele tinha uma vida monótona, nuca saiu de sua cidade natal, era um homem de físico frágil e costumes particulares que lhe conferiram a imagem de uma pessoa metódica.
Escreveu as obras de crítica:
1) Crítica da razão pura (prolegômenos) - 1783;
2) Crítica da razão prática (fundamentação da metafísica) - 1785;
3) Crítica do juízo - 1790.
Além das críticas também escreveu obras relativo à História e Política.
A filosofia transcendental [5]
A obra filosofal de Kant foi uma superação dos conflitos filosóficos de sua época. Os pensamentos se dividiam em: pensamento cético e dogmático, e idealista e empirista.
Classe
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Pensamento
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Crítica de Kant
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Céticos
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Acreditam que o conhecimento não é possível.
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Desconsideram a razão.
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Dogmáticos
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Acreditam que o conhecimento é possível, mas acreditam que somente sua doutrina é a correta.
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Considera demais a razão.
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Idealistas
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São intelectualistas, acreditam que o conhecimento só é atingido através do intelecto.
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Kant é considerado um idealista.
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Empiristas
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Acreditam somente no que for possível se experimentar, o sentido.
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Na tentativa de resolver estes conflitos que Kant elabora suas críticas. Ele concorda em parte com os céticos que duvidam que é possível conhecer as coisas como elas realmente são, para ele nós temos somente a ‘visão’ do que as coisas parecem ser. Mas, também, acreditava que se pode conhecer os fenômenos que as coisas nos dão, destarte, é possível sentir um pouco sobre as coisas e conhecer sua manifestação.
“... Kant diz (...) que o conhecimento é fruto de uma síntese entre sensibilidade e razão. (...) É transcendente toda afirmação ou doutrina que afirme mais do que aquilo que pode ser comprovado pela experiência. Já transcendental (...), nas palavras de Kant, [é] ‘todo conhecimento que em geral se ocupa não tanto com objetos, mas como o nosso modo de conhecer objetos na medida em que este deve ser possível a priori’” [6]
A moral kantiana
A Crítica da razão prática visa responder às seguintes questões:
1) O que posso conhecer?
2) O que devo fazer?
3) O que me é permitido esperar?
A Crítica da razão prática deduz da razão as regras para conduta, pensando que o que rege nossa conduta deve também reger os pontos morais. Nesta crítica Kant postula a idéia de Deus, segundo ele, todos têm a capacidade e a força de vontade para agir somente segundo a razão. Desta forma, refuta o princípio de Descartes sobre Deus agir sobre os indivíduos.
Na Crítica do juízo que pode-se ser dividida em: Juízo determinante aonde trata o processo indutivo e no Juízo reflexivo aonde trata das hipóteses. Ou seja, no Juízo determinante procura-se a particularidade entre os diversos fatores e se deduz; no Juízo reflexivo dado a multiplicidade de fatos particulares se procura a unidade entre eles e se levanta hipóteses.
[1] Graduando em licenciatura/ bacharelado em História pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) - 2014
[2] O massacre da noite de São Bartolomeu ou a noite de São Bartolomeu foi um episódio sangrento na repressão aos protestantes na França pelos reis franceses, que eram católicos. As matanças, organizadas pela Casa real francesa, começaram em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas. Números precisos para as vítimas nunca foram compilados.
Fonte: Un matin devant la porte du Louvre (Uma manhã nos portões do Louvre) de 1880, pintura do francês Édouard Debat-Panson (1847 – 1913)
[3] Cristina (Estocolmo, 18 de dezembro de 1626 – Roma, 19 de abril de 1689) foi a Rainha da Suécia de 1632 até sua abdicação em 1654. Era a única filha do rei Gustavo II Adolfo e sua esposa Maria Leonor de Brandemburgo. Ela ascendeu ao trono sueco com apenas seis anos de idade após a morte de seu pai na Batalha de Lützen. Sendo a filha de um defensor do protestantismo na Guerra dos Trinta Anos, Cristina causou escândalo ao abdicar em 1654 e converter-se ao catolicismo. Ela passou seus anos restantes em Roma, tornando-se a líder da vida musical e teatral local. Como rainha sem um país, ela protegeu muitos artistas e projetos. Cristina morreu em 1689 e é uma das poucas mulheres enterradas no Vaticano.
[4] ROUANET, L.P. Apostila Descartes. UFSJ: São João Del Rei, 22 de out de 2014, p. 44
[5] Não confundir com transcendente: o que está além da capacidade de conhecimento humano.
[6] ROUANET, L.P. Apostila Descartes. UFSJ: São João Del Rei, 12 nov. 2014, p. 5
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