BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Os confrontos de uma disciplina escolar: da história sagrada à história profana. São Paulo: USP, 1993.
Por: Séfora Semíramis Sutil Moreira[1]
O ensino de História no Brasil era “um anexo ou complemento do latim” (BITTENCOURT: 1993 p.1). Com a Constituição de 1824 pelos liberais inicia-se os debates sobre o ensino de História. Parte deste grupo queria transformar a História tradicional, a que tinha referencia aos caminhos de Cristo, fundamentalmente católica, em História laica. Porém, sem abolir “os princípios educativos da igreja católica” (Idem, p.2).
Esta Constituição da época determinava que “professores (deveriam ensinar) a leitura, escrita e rudimentos de aritmética, deveriam preocupar-se em fornecer elementos de moral religiosa, segundo os preceitos da doutrina católica e introduzir leituras sobre a Constituição do Império e a História do Brasil” (Idem, p.3), até mesmo porque os membros destes grupos certamente eram seguidores da religião católica.
Em 1837 inaugurou-se o primeiro colégio público, o Pedro II, e foi determinada a obrigatoriedade do ensino da disciplina de História. Em 1855 introduz-se a matéria de História do Brasil como disciplina independente. Em 1866 separa-se a Geografia da história, deixando assim as matérias mais específicas. Esta História laica era tida como profana, mas conviveu ao lado da História Sagrada.
Estudar e ter acesso à educação escolar tornou-se forma de manter a posição privilegiada das classes elitistas. Com a ascensão da instituição escolar e seu consecutivo giro monetário, pois sem exceções as escolas eram pagas, as instituições privadas trabalharam na concepção de que seu ensino era melhor e mais adequado do que o oferecido nas públicas (mesmo que estas, também, fossem pagas). Este foi um meio, ou jogada midiática, para conseguir mais lucros, mas acabou por abranger o acesso à escola (que fique claro que tal acesso diz respeito à elite). Estes que propagavam a idéia de que as instituições privadas eram melhores ficaram conhecidos por Conservadores Educacionais, pois introduziram a religião como ensino obrigatório, além de ter relegado outras disciplinas do programa inicial do Colégio Pedro II.
Após as concepções de Antônio Caetano Campos, que previa uma história não sacral, “paulatinamente (...) a História deixou de ser (...) uma matéria ilustrativa da moral religiosa universal (...) para se transformar em uma disciplina autônoma, encarregada da formação política do cidadão nacional.” (Idem, p.6)
Conteúdos da História Sagrada
Com a instauração da República “a História Sagrada perdeu seu caráter de obrigatoriedade no ensino público mas permaneceu nas escolas confessionais” (Idem, p.6). O ensino do sagrado não se limitava à disciplina de História especificamente, estava introduzido nos textos literários e de outros conteúdos. Parece-me que havia, de todas as formas, o desejo, por parte da instituição religiosa (neste caso católica), de manter presente o controle, através de seus dogmas, das mentes humanas assim como fazem as instituições políticas. Os textos de História Sagrada eram “para rememorar e não para descobrir algo novo, para se aperfeiçoarem moralmente e não para se informarem.” (Idem, p.9) O tempo era visto em uma visão cíclica associado às estações do ano e agricultura, sua cronologia referia-se à vida de Jesus conforme o calendário Gregoriano e aonde os acontecimentos são escatológicos. O espaço era dividido entre nações cristãs e não cristãs, desta forma as que não eram cristãs eram simplesmente ignoradas.
Mas, como dito, a História Sagrada e Profana caminham lado a lado e cada vez mais se desenvolve rumo à construção da História Nacional. Não mais baseada na história européia, substancialmente francesa, e sim própria dos feitos históricos brasileiros. Isso permite a introdução de manuais e livros escritos por autores nacionais e o gradativo abandono dos manuais estrangeiros. Após a “criação” (processo que continua em desenvolvimento) da História Nacional a preocupação passa ser a de se inserir nas pessoas (homens da elite) um sentimento de nacionalismo. O povo que outrora não estava inserido na questão nacional passa à contemplação da tríade Estado-Nação- Povo.
[1] Graduando em licenciatura/ bacharelado em História pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) - 2014
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